segunda-feira, 26 de abril de 2010

CUIDADO COM OS ECONOMISTAS QUE SÃO APENAS ECONOMISTAS

Contam que, certa feita, um cidadão, economista, ao passar de carro por uma estrada no meio rural, avistou um pescador à beira do rio, e resolveu a certa distância, verificar como era seu processo produtivo. [1]

O economista constatou que o pescador possuía uma lata com algumas minhocas, às quais recorria, vez por outra, para utilizá-las como isca, e que, como instrumentos de produção, [2] valia-se de um caniço e um samburá.

Entre uma pitada e outra de seu cigarro de palha, o caipira deliciava-se, ora com o cantar prodigioso de um pássaro, ora com o vôo imprevisível de uma borboleta multicolorida ou, até mesmo, com a musicalidade do vento a soprar as copas das árvores. [3]

Após pescar alguns peixes, suficientes para prover sua subsistência, [4] e supondo ainda uma sobra eventual que poderia ser trocada, numa relação de escambo, [5] por algum produto excedente gerado por outro membro de sua comunidade, a lata foi esvaziada e o restante das minhocas voltou à terra úmida de onde saíra. Em seguida, a linha foi enrolada no caniço e, o samburá[6], retirado da água com os peixes fisgados. Por fim, lá se foi, roça à dentro, aquele tranqüilo e sereno cidadão.

Na semana seguinte, passando o economista pelo mesmo caminho, avistou, uma vez mais, o pescador que repetia ipsis literis [7] todo o seu processo produtivo. Como a curiosidade sobre a atividade produtiva do pescador persistia, o economista parou, sentou-se um pouco mais perto que da vez anterior e continuou a observar.

Passado mais ou menos o mesmo período de tempo que compunha a sua jornada de trabalho[8], e conseguindo efetivar o mesmo produto[9] (peixes fisgados), estava o sertanejo preparando-se, uma vez mais, para retirar-se, quando, ainda à distância, foi abordado pelo economista:

- Se você realizar uma jornada extra de trabalho[10], muito provavelmente, irá gerar um produto maior, saindo dessa economia natural, [11] possibilitando ainda o surgimento de um excedente econômico[12] que, ao ser vendido, tornará possível a acumulação de capital[13], afirmou o economista, iniciando um diálogo com o pescador.

- Após dias ininterruptos de maiores jornadas de trabalho, geradoras de produtos e receitas marginais[14], afirmava ainda o economista, você poderá adquirir um barco. A posse de tal bem de capital [15]possibilitará a escolha de águas mais piscosas que, por sua vez, irá gerar maiores produtos e rendas. Após algum tempo, esses produtos e receitas adicionais possibilitarão a compra de outro barco, proporcionando-lhe oportunidade de contratar trabalhadores assalariados[16], transformando-o de produtor direto[17] em capitalista[18].

Já impaciente o caipira perguntou:

- Até agora está tudo certo, eu só gostaria de saber aonde vai levar essa conversa toda.

- É muito simples, concluiu o economista: você deixará de ser trabalhador, assumindo a função de empresário, recebendo, consequentemente, um rendimento[19] que terá embutido seu lucro[20]. Desta forma, você ampliará substancialmente seu consumo, elevando seu padrão de vida[21], alem de passar a fazer apenas o que gosta.

- Se entendi bem, iniciou o pescador, o amigo sugere na sua linguagem, que eu aumente minha produção (através da elevação da jornada de trabalho), que eu realize a acumulação de capital (através da produção sistemática de um excedente), que eu faça investimentos (comprando barcos), que ainda mude meu papel no processo produtivo (de produtor direto a empregador), pois assim, terei retorno sob a forma de lucro, com conseqüente elevação em minha qualidade de vida.

- Eu gostaria, contudo, continuou o pescador, que o amigo considerasse algumas questões, tais como: a) é importante repensar o tipo de sociedade que estamos construindo, pois, entendo que a qualidade de vida não deva ser avaliada, apenas, em termos mercantis ou quantitativos; b) a racionalidade social, assim como a ambiental, ambas diretamente ligadas à vida, não devem ser superpostas pela racionalidade econômica, visto que há uma complementaridade e indissociabilidade em todas as formas de organização da vida; c) é necessário reconsiderar alguns conceitos como riqueza e pobreza. Isto explica que segurança, afeto, identidade e partilha, entre outras condições, devam ser considerados na formulação de tais conceitos; d) esse tal de desenvolvimento econômico[22], que de forma inapropriada é tão comumente confundido com crescimento econômico[23], na minha concepção, deveria primeiro, combinar eficiência com suficiência, para evitar o tão propalado consumismo, com impactos visíveis no equilíbrio ambiental do planeta, além, é claro, referir-se primordialmente a pessoas e não a objetos; e) por fim, meu caro e simpático teórico da ciência da escassez[24], trazer soluções prontas é tão arrogante, anacrônico e paternalista que, na concepção desse humilde pescador deveria ser substituído pelo estímulo ao diálogo, onde falar torna-se tão importante quanto ver, ouvir e sentir.

E o economista, acostumado a subordinar conceitos e valores aos fins econômicos, saiu macambúzio, apressado, encabulado até, desconfiado agora que talvez seja mais adequado obter um elevado grau de satisfação a partir de um baixo índice de consumo, o que diminui a demanda sobre os recursos naturais e fontes energéticas, e mais, que muito provavelmente a satisfação de muita gente pode ser suprida priorizando-se a utilização de recursos locais, como fazem o pescador, o artesão, o agricultor que pratica a agricultura familiar e outros produtores de perfil assemelhado.

Contam as boas línguas, que esse mesmo economista, diante do irrealismo de muitos postulados do modelo neoliberal, andou informando-se da existência de um novo paradigma, denominado Economia Popular Solidária, o qual se fundamenta em um conjunto de ações coletivas, estabelecidas de forma democrática, através da prática da autogestão[25], relacionadas à produção, comercialização, consumo e crédito, com foco no empoderamento[26] de pessoas e empreendimentos[27], e que, a partir de então, embora discordando do físico Luiz Pinguelli Rosa ao afirmar, em entrevista durante a 57ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, que “... os economistas são os seres mais problemáticos da vida contemporânea”, não deixou de considerar o ponto de vista do liberal Friedrich Hayek, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1974, ao afirmar que “... um economista que só é economista torna-se prejudicial e pode constituir um verdadeiro perigo”.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EATON, John. Manual de Economia Política. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.

JESUS, Paulo de. Desenvolvimento Local, in: CATTANI, Antonio David (Org.). A Outra Economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003.

LAPIDUS & OSTROVITIANOV. Princípios de Economia Política. Volume I. Belo Horizonte: Aldeia Global livraria e Editora Ltda, 1979.

LIRA, Roberto G. de Brito. Para Aprender Economia. São João del Rei: Editora da Universidade Federal de São João del Rei, 2006.

SCHUMACHER, E. F. O Negócio é Ser Pequeno. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.

SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.

Boletim do Centro Acadêmico Livre de Economia. São João del Rei: UFSJ, março/2007.



[1] Entende-se por processo produtivo a atividade que, utilizando-se dos fatores de produção (capital, recursos naturais e trabalho) gera bens e serviços voltados ao mercado.

[2] Todas as coisas que direta ou indiretamente permitem transformar a matéria-prima (bem intermediário) em produto final são consideradas instrumentos de produção.

[3] Tais condições caracterizam o aspecto prazeroso da atividade laboral, típico dos modos de produção como o comunista primitivo, asiático e manufatureiro. Sob o modo de produção capitalista, o foco exclusivo torna-se a maximização da mais-valia, o que pressupõe a submissão do trabalho ao capital, excluindo-se, por conseguinte, as condições lúdicas da produção.

[4] Define-se como sendo uma prática de subsistência aquela na qual a produção tem por fim o consumo, não voltando-se, consequentemente, de forma sistemática ao mercado.

[5] Entende-se por escambo a troca direta, o que pressupõe a duplicidade de interesses e disponibilidades, realizada sem intermediário de troca, feita em espécie.

[6] Neste caso, o caniço e o samburá são classificados como capital natural, qual seja, aquele existente no modo de produção de mercadorias simples, constituído por ferramentas de ofício. Este capital era tido como irrealizável, visto que, dado o incipiente intercâmbio e diminuta circulação, tornava-se hereditário, passando dos pais para os filhos.

[7] Textualmente: tal e qual.

[8] Define-se jornada de trabalho como sendo o tempo de trabalho no qual o trabalhador aloca a sua capacidade de trabalho nas atividades geradoras de bens e serviços.

Como contrapartida à venda da capacidade de trabalho, no capitalismo, o trabalhador recebe um salário, considerado como necessário à sua produção.

Ainda no modelo capitalista, a jornada de trabalho divide-se em duas partes: tempo de trabalho necessário e tempo de trabalho excedente. Na primeira, são gerados valores que cobrem os custos de produção. Na segunda, o chamado tempo de trabalho excedente, corresponde ao período em que é criada a mais-valia, que é o lucro extraído a partir do mais valor criado pelos trabalhadores, porém, apropriado pelos proprietários dos meios de produção (no caso, os capitalistas).

[9] Define-se produto, como sendo algo que é gerado em uma unidade produtiva, resultado da ação transformadora do trabalho, capaz de satisfazer necessidades e ofertado em um mercado.

[10] Entende-se por jornada extra de trabalho um tempo superior ao período que caracteriza uma jornada rotineira de trabalho.

[11] Quando a produção restringe-se à subsistência do produtor, inexistindo um excedente sistemático, diz-se que a economia encontra-se em um estágio de auto-suficiência ou natural.

[12] Excedente Econômico é a parte da produção que não é absorvida pelos gastos necessários à mesma produção.

[13] Acumulação de capital é o processo através do qual parte do excedente econômico gerado em determinado período de tempo, transforma-se, no período posterior, em novo capital.

[14] Produtos e receitas que são agregadas à produção e receitas de uma dada entidade produtiva.

[15] Entende-se por bem de capital ao fator de produção que gera outros bens a partir do chamado consumo produtivo. Tal consumo dar-se-á através do processo produtivo, onde os bens intermediários são transformados em bens finais.

[16] Os trabalhadores assalariados são partes dos agentes que compõem o segmento ocupado da População Economicamente Ativa (PEA) e que estão envolvidos em atividades econômicas, recebendo, por esse fato, remuneração direta ou indireta.

Como o PEA representa a oferta de trabalho do sistema econômico, além dos trabalhadores empregados citados anteriormente, são considerados ainda na formação desse agregado os trabalhadores desempregados que, embora aptos e desejosos de trabalhar, não são absorvidos pelo aparelho produtivo.

Importa salientar ainda que o trabalho assalariado é típico do modo de produção capitalista, visto que nos modos de produção comunista primitivo, feudal e escravocrata os trabalhadores não vendiam sua força de trabalho e, consequentemente, não recebiam salários.

[17] É classificado como produtor direto aquele trabalhador envolvido no processo produtivo, transformando a matéria-prima em produtos finais. Tais ações ocorrem nas atividades fins das empresas.

[18] Entende-se por capitalista o agente proprietário dos meios de produção utilizados na atividade produtiva da empresa. Tais meios são utilizados pelos trabalhadores na geração de bens econômicos voltados ao mercado (mercadorias).

[19] O rendimento auferido por um empresário será a contrapartida das vendas realizadas na atividade fim da empresa, adicionado aos rendimentos não-operacionais.

[20] Denomina-se lucro capitalista (ou mais-valia) à parcela do valor da mercadoria em que é incorporado o trabalho não-remunerado. Observe-se que tal incorporação dar-se-á no chamado tempo de trabalho excedente, visto que os custos de produção são cobertos pelo valor gerado no tempo de trabalho necessário.

[21] O padrão de vida é um índice que relaciona a quantidade e a qualidade dos bens consumidos, vis a vis, as necessidades (vitais e de existência social) de uma pessoa ou grupo, a partir de uma determinada renda disponível.

[22] Segundo Paulo de Jesus, “… somente haverá desenvolvimento quando a mudança contemplar a totalidade de uma sociedade ou, quando não, beneficiar uma maioria” (JESUS, 2003).

[23] O cálculo tradicional da variação do crescimento econômico se faz tomando-se por base exclusivamente a geração dos produtos produzidos internamente em uma região ou país.

Note-se que, na atualidade, a receita do tipo “tamanho único” (PIB), para avaliar o crescimento econômico, está sendo questionado em outros terrenos, além do social e ambiental.

A economista Hazel Henderson é enfática ao propor a construção de novos indicadores de desempenho econômico, através de método multissetorial – economia ecológica, economia de recursos naturais etc, possibilitando a construção de um novo paradigma que vá além do “Consenso de Washington”.

[24] Diz-se que a economia é a ciência da escassez, em conseqüência da mesma ter por objetivo compatibilizar a resolução de necessidades ilimitadas, a partir da disponibilidade de recursos produtivos escassos e de usos excludentes.

[25] Aqui entendido como sendo um conjunto de práticas sociais nas quais as decisões ocorrem de forma horizontalizada, autônoma, com a participação e ciência de todos os membros do coletivo.

[26] A concepção de empoderamento torna-se importante, visto que pressupõe o desabrochar das potencialidades internas das pessoas, coletivos, comunidades e povos, o qual dar-se-á a partir da consciência de cada um de que é possível e necessário tornar-se sujeito de seu próprio desenvolvimento, participando ativamente da defesa de seus interesses, contribuindo nas transformações locais e de seu entorno.

[27] Cooperativas, associações, clubes de trocas solidárias, empresas autogestionárias recuperadas pelos trabalhadores, empreendimentos estruturados sob a forma de redes de colaboração solidárias etc.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Digital de Deus




Com o intuito de fazer uma faxina em meu computador, resolvi abrir algumas pastas e reler alguns artigos escritos em tempos idos. Reli textos onde discutia questões como precarização do trabalho, desemprego, concentração de renda, inflação, dívida externa, economia solidária, economia da dádiva, entre outros tantos assuntos. Dentre os artigos “revisitados”, um, particularmente – A Digital de Deus -, escrito na primavera de 2005, na Ilha de Fernando de Noronha, proporcionou-me um gostoso sentimento de reencontro com histórias, lembranças e pessoas queridas.

Considerando que este texto foi apenas apresentado em sessão do Instituto Histórico de Olinda-Pernambuco, escrito para materializar um sentimento de gratidão meu para com a Ilha, pela oportunidade de poder usufruir de tão exuberante expressão de beleza natural, além da necessária tranqüilidade para dar os últimos retoques a uma obra de introdução à economia – “Para Aprender Economia”-, e, como dito, apenas apresentado em sessão do Instituto Histórico de Olinda-Pernambuco, resolvi publicá-lo neste blog, para compartilhá-lo com meus leitores.

Vamos, portanto, ao artigo.

No final do século XV, mais precisamente em 21 de abril de 1500, os portugueses, movidos pelo desejo de alcançar as Índias, acabaram chegando ao Brasil.

Em 1503, o navegante português Américo Vespúcio, em expedição com objetivo de reafirmar a posse e denominar topônimos, teria sido o primeiro português a pisar em Fernando de Noronha.

Em 1504, Fernão (Fernan) de Loronha, fidalgo português que financiara a expedição ocorrida no ano anterior, recebeu do rei de Portugal, Dom Manuel, a primeira capitania hereditária criada no Brasil, situada em Fernando de Noronha.

Em 1629, com a vinda dos holandeses para o Brasil, mais especificamente para o nordeste brasileiro, foram, os batavos, responsáveis pela expansão e conseqüente desenvolvimento da economia canavieira, tendo ainda, marcante presença no Arquipélago de Fernando de Noronha.

No intervalo de 1629 a 1654, período da permanência dos holandeses no nordeste brasileiro, foram inúmeros os avanços implementados na Ilha. Dentre estes, podem-se destacar as construções de um conjunto de dez fortes, com o propósito de defender a posse diante das ações de possíveis invasores[1], de um conjunto de casas que deu origem a Vila dos Remédios, atual sede da Ilha, além de uma colônia correcional.

Em virtude da distância que separa a Ilha do Continente, este paraíso foi utilizado repetidas vezes como local de reclusão de presos. Assim, em 1739, para lá foram transferidos inúmeros ciganos, tidos, pelas autoridades, como vadios.

Já em 1844, os revolucionários aprisionados da Guerra dos Farrapos, tiveram a Ilha, como local de degredo.

No ano de 1890, os negros praticantes da capoeira, foram lá aprisionados, visto que as autoridades concluíram que a prática da capoeira era motivo de desordem. Posteriormente, em 1938, já em plena ditadura Vargas, a Ilha, que até então era administrada pelo Estado de Pernambuco, passou a ser subordinada à União, sendo seu presídio ampliado para funcionar como local de reclusão para presos políticos. Com este mesmo fim, a Ilha de Fernando de Noronha, foi utilizada pelos militares golpistas que tomaram o poder político, pela força das armas, no longo período de 1964 a 1985.

Após muitos anos, infelizmente, não há resquícios visíveis de traços culturais transmitidos às gerações posteriores pelos negros capoeiras, pelos revolucionários gaúchos nem pelos povos ciganos.

Mas, como não apenas os segregados foram trazidos à Ilha, viajantes e velejadores de inúmeras nações procuraram Fernando de Noronha como um porto seguro e aprazível para o desfrute das belezas lá existentes. Assim foi que, em 1816, o célebre pintor francês Debret, que lá esteve como membro de uma comitiva francesa, teve oportunidade de se inspirar no Morro do Pico, o ponto mais alto da geografia local, para produzir uma de suas mais belas telas.

O naturalista Charles Darwin, atraído pela exuberância das espécies animais existentes na Ilha, teve oportunidade de em 1832, fazer um relato rico e minucioso da fauna aquática e terrestre do local.

Como mecanismo de preservação das espécies existentes na Ilha, o Governo do Estado de Pernambuco, em parceria com o Ibama, criou, em 1988, o Parque Nacional Marinho.

Por fim, em reconhecimento à importância da preservação das inúmeras formas de vida existentes no Arquipélago de Fernando de Noronha para o planeta, a Unesco, em 2001, reconheceu o mesmo como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.

Fica, portanto, para os inúmeros visitantes que têm a oportunidade de se extasiarem com tamanha manifestação de beleza natural, a certeza de que a criação dos incontáveis peixes multicores, corais de variadas formas e tonalidades, pedras e seixos que são resquícios de erupções vulcânicas de eras remotas, tudo isso, pressupõe a existência de um Criador ímpar. Não é necessária muita busca para nos assegurarmos de que lá existem as marcas digitais de Deus, o Grande Arquiteto do Universo.




[1] Ainda hoje e possível encontrar inúmeros canhões trazidos na época, os quais estão distribuídos nos resquícios dos fortes que permanecem incólumes à passagem dos tempos.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

SAPO SEM INICIATIVA MORRE COZIDO

Algum ou alguma de vocês já tentou cozinhar um sapo numa panela? Não? Pois é, eu particularmente não aconselho a ninguém, principalmente, se tiver uma panela com água em ebulição, fervendo a cem graus Celsius e tentar colocá-lo dentro dessa panela. Nesse caso, o resultado é esperado: o batráquio sofrerá um choque térmico tão forte que, imediatamente, dará um pulo colossal e você nunca mais o verá.

Contudo, esse mesmo sapo terá um comportamento distinto, se for colocado em uma vasilha com água fria. Ele irá adorar. Ficará feliz da vida. Você até poderá acender um fogo brando, que o bichinho continuará quieto. Com o tempo, a água poderá até continuar esquentando e ficar morna, mas o sapo, bem, vocês verão: continuará quietinho, acomodado. Mesmo que sinta algum desconforto, algum calor, mas, por comodismo, continuará quietinho.

Que sapo gosta de água, todo mundo sabe disso. Isso explica porque sapo adora uma lagoa. Não apenas lagoa, brejo também. Beira de rio, então, nem se fala. Na verdade, o sapo que eu estou me referindo, se acomoda às mudanças quando elas acontecem lenta e gradualmente. Em parte porque não as percebe. Na maioria das vezes, contudo, por puro comodismo.

Bem, passado mais algum tempo, a água estará quente e, como o sapo não reagiu, não se rebelou, irá perdendo suas forças até vir a falecer. Cozido, é claro.

Nós, à semelhança dos sapos, vemos surgir em nosso dia a dia, fatos e ações que nos incomodam, tais como crescimento do desemprego estrutural, com consequente precarização do trabalho, deterioração nas condições de moradia, principalmente nas periferias das grandes cidades, reflexo de uma conjuntura de elevada especulação imobiliária urbana, esgotamento da capacidade dos aterros sanitários, causado pelo aumento exponencial na geração de lixo, consequente do consumismo exacerbado, típico das sociedades de consumo de massa, piora crescente nos serviços públicos de saúde que, aliada ao encarecimento dos serviços privados de saúde, exclui parcelas significativas da população a um atendimento eficaz, "amornando" e aumentando a “temperatura social”, principalmente, para segmentos menos afortunados.

Diante desse cenário exposto, fica a convicção de que, por desarticulação e falta de senso crítico, além de uma boa dose de comodismo, demonstramos nossa incapacidade de indignação diante dos apartheides e guetos que caracterizam esse bipolarismo típico entre ricos e pobres do capitalismo selvagem globalizado.É chegada a hora, portanto, de atentarmos para o fato de que, se o surgimento do capitalismo representou inovações e avanços, comparativamente ao feudalismo que lhe antecedera, por outro lado, esse modelo, no que diz respeito a geração de emprego e renda para a maioria da população, há muito já deu mostras cabais de que a economia de mercado deixou de ser solução para constituir-se em problema.

Nesse caso, urge não acomodarmos diante de tais mudanças, exercendo nosso papel na construção de uma sociedade que prima pela preservação da vida em detrimento do crescimento do capital.

Isso posto, uma nova economia, pautada não mais na concentração do lucro e do capital, na concorrência, no individualismo e na exploração da força de trabalho, surge, dando mostras de que uma outra economia é possível.

Nesse paradigma que surge de forma consistente e coerente, o trabalho se sobrepõe ao capital, a partilha da riqueza gerada se contrapõe à concentração do capital e a democracia participativa contrapõe-se à democracia representativa, ressaltando a necessidade do fortalecimento da autonomia através da autogestão.

Nesse caso, estamos falando da Economia Popular Solidária, que está sendo construída por todos e todas que acreditam que o crescimento econômico apenas terá sentido se vier acompanhado pelo bem viver de parcelas significativas da população, empoderando pessoas e coletivos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

TROTE ESTUDANTIL

O trote estudantil, tido como uma iniciação dos alunos calouros promovida pelos veteranos, não é uma prática recente. Afinal, nas primeiras universidades da Europa, desde a Idade Média, os alunos iniciantes já eram submetidos a práticas tais como corte de cabelo, pintura no rosto, mãos amarradas e outras ações com elevado grau de humilhação e vexame.

Considerando que a universidade é um local onde se prega e pratica valores e hábitos humanitários, torna-se incompreensível que tais práticas de segregação, domínio e autoritarismo sejam confundidas como uma inocente e lúdica iniciação de integração.

Durante os primeiros anos da década de 1960, antes da quartelada, tal prática tinha uma clara conotação de conscientização política, quando os calouros eram induzidos a se manifestarem em relação a questões como a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino, a luta contra o autoritarismo na estrutura universitária, os papéis dos centros acadêmicos e diretório central dos estudantes na democratização da gestão universitária, o combate ao analfabetismo na construção de uma sociedade mais justa e outras questões do gênero.

A partir do golpe militar de 1964, os truculentos militares que assumiram o poder, trataram de reprimir as lideranças políticas, cerceando o direito de crítica e de ação da população, condenada a um longo e duradouro processo de alienação. A partir de 1968, com a assinatura do Ato Institucional número cinco (AI-5), do fechamento do Congresso Nacional, da assinatura do Decreto-Lei 477 (era o AI-5 das universidades, que transformou estudantes e intelectuais em reféns da ditadura), as condições de liberdade foram abolidas, sendo proibida qualquer manifestação de caráter político por parte dos estudantes, nas universidades e fora delas. Ressalte-se que algumas práticas irracionais, tais como as agressões físicas ou verbais aos calouros, denominadas de trote, longe de serem reprimidas, foram, por esse fato, extrapolando seus limites até chegar as raias da barbárie, com consequências fatais.

Após incansável luta empreendida por estudantes, professores, intelectuais, políticos, religiosos, sindicalistas, líderes comunitários, entre outros, além, é claro, da pressão exercida pelo movimento de anistia internacional, os militares foram perdendo fôlego e, “de forma lenta e gradual”, foram retornando aos quartéis, de onde, diga-se de passagem, não deveriam jamais ter saído.

Pois bem, nesse novo cenário político de abertura democrática, as liberdades de imprensa e de organização começam a dar o tom das novas ações dos atores sociais. Nesse contexto de abertura, os estudantes reabrem seus organismos desatrelados e esfacelados pela ditadura, voltando a ocupar os centros acadêmicos e o diretório central, como instrumentos de conscientização e ação política universitária.

Na atualidade, após virarmos essa página negra da história política brasileira, para a qual muitas vidas foram ceifadas pelos gorilas fardados, o que vemos? O que fizeram com a consciência política dos estudantes? E com a militância? Quantos estudantes entram na universidade para viabilizar um projeto de vida comprometido com a nação? Qual o real significado do lema da Campanha da Fraternidade: “Ninguém pode servir a dois senhores: a Deus ou ao dinheiro”? Será que os estudantes que recebem os calouros com tinta, cabeça raspada, pedágio e outras formas de humilhação se dignarão a responder tais indagações?

Na verdade, eu tenho poucas informações sobre as articulações dos veteranos de cada curso da UFSJ no que diz respeito à recepção dos novos companheiros de curso. Como trabalho há muito tempo na Economia, e conheço de perto os membros do CALE (Centro Acadêmico Livre de Economia), não receio em afirmar que eles tudo farão para receber os calouros de forma respeitosa e civilizada, aproveitando esses contatos iniciais para alertá-los de que a UFSJ é uma instituição pública, e como tal, temos compromissos com o povo brasileiro que, ao pagar seus impostos, financia a formação dos futuros profissionais, os quais, por esse fato, devem comprometer-se com a construção de uma sociedade justa, equânime, solidária e respeitosa.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

HORTA COMUNITÁRIA EM PRADOS

O Projeto: “Adquirindo o Alimento com o Próprio Trabalho”, resultado de uma parceria entre a Universidade Federal de São João del Rei-UFSJ, a Prefeitura Municipal de Prados, a Secretaria de Assistência Social de Prados e a Cooperativa Caminhos da Estrada Real de Prados-Coopcer, teve início no dia 26 de fevereiro do corrente ano, data comemorativa dos quatro meses de existência do CRAS – Pinheiro Chagas. Como parte da programação alusiva a esta data, foi programada uma palestra com o professor Roberto Lira, da UFSJ, quando foram abordadas as reais possibilidades de melhoria do bem viver comunitário, a partir do esforço produtivo coletivo dos moradores da comunidade.

Após a exposição do professor Lira, os moradores presentes fizeram inúmeras perguntas sobre a estrutura funcional da horta comunitária, demonstrando grande interesse e confiança no êxito do empreendimento. Na oportunidade, os moradores e moradoras assumiram coletivamente o compromisso de consolidar, no espaço do CRAS, uma horta comunitária, assumindo, consequentemente, o papel de executores de sua própria história.

Como parte da agenda cultural do evento, dois grupos de artistas mirins da comunidade local fizeram apresentações de dança, encantando a todos os presentes.

No dia seguinte, pela manhã, com a participação de um grande número de moradores da comunidade, teve inicio o processo de capina do terreno, quando, uma vez mais, constatou-se a força do coletivo, visto que uma área significativa do terreno começou a ser preparado para o plantio.

Para todos que, a partir da horta comunitária, passaram a acreditar na proposição do trabalho coletivo, solidário, ficou a certeza de que, quando parte-se de uma prática autogestionária, onde não há a separação entre aqueles que pensam, daqueles que fazem, onde o trabalho para outrem, transforma-se no trabalho com outrem, redescobrem-se as características lúdicas e prazerosas do trabalho, o qual passa a ser instrumento de empoderamento do indivíduo e do empreendimento.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

ECONOMIA PARA A VIDA E NÃO PARA A MORTE

Ao ler no endereço www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod o artigo intitulado Economia para a vida e não para a morte de Frei Gilvander L. Moreira e Irmã Maria do Rosário O. Carneiro, referente ao tema da Campanha da Fraternidade 2010,faço as considerações abaixo, que gostaria de compartilhar com os leitores desse blog.


Vejam só que coincidência. Há alguns dias, eu elaborei uma atividade para um curso da Plataforma Moodle da UFSJ - Universidade Federal de São João del-Rei denominando-a de Uso do Paradigma da Economia Solidária Como Instrumento de Preservação da Vida. E, embutida nessa proposta, está a qualificação de um grande número de pessoas para raciocinar, se organizar e produzir coletivamente, com base nos princípios da Economia Solidária, contribuindo para a difusão e expansão do movimento.

Como há algumas identidades entre o artigo Economia para a Vida e não para a Morte, e o curso (incluindo o material) por mim proposto, passo, em seguida, a fazer algumas considerações ao texto do Frei Gilvander Moreira e da Irmã Maria do Rosário que, de certa forma serão abordados no curso.

Os autores do texto em questão foram precisos em apontar a atividade laboral capitalista como algo destituída de prazer, repetitivo e alienador, além de gerar um rendimento diminuto, de pequeno efeito, no que diz respeito à melhoria do bem viver do trabalhador. Isso explica porque os autores classificam tal atividade como uma escravidão dissimulada.

A supervalorização continuada do lucro e da acumulação de capital, que caracterizam a chamada “lucronomia”, capitaneada pelas empresas transnacionais e grandes capitais financeiros, denunciada pela Campanha da Fraternidade da CNBB, ilustra, de forma inconteste, o tratamento desigual recebido pelos diferentes agentes econômicos. Assim, enquanto os camelôs sofrem a ação incansável dos truculentos e insensíveis fiscais, que recolhem aos depósitos das prefeituras as mercadorias, cujas vendas possibilitariam a sua sobrevivência e de seus familiares, os agentes financeiros que praticam gestões fraudulentas de seus negócios, são prontamente socorridos pelos fartos recursos públicos, ou seja, do povo. A guisa de lembrança, convém recordar do famigerado Programa de Estímulo á Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional – PROER, implantado no governo de Fernando Henrique Cardoso, que entre 1995 a 2001, destinou cerca de R# 112 bilhões ao sistema financeiro, socializando, dessa forma, a dívida dos bancos Econômico, Excel, Marka e FonteCidam.

A busca individual de solução caracterizada pela opção da economia informal, dá provas cabais da necessidade de agir coletivamente. Individualmente, os trabalhadores ambulantes são fracos, por esse motivo, urge a organização dos trabalhadores em empreendimentos coletivos. Isso posto, Moreira e Carneiro demonstrando que muitos trabalhadores já perceberam as conveniências da força do coletivo afirmam que “... a multidão dos que acreditam na Economia Solidária cresce dia a dia”.

A crítica feita a economia capitalista neoliberal, que centraliza os ganhos nas elites em detrimento da pobreza, seja ela relativa, absoluta ou extrema, comprova a necessidade de organização e reivindicação dos excluídos pela distribuição do bolo econômico, haja vista que a economia brasileira faz parte do ranking das dez maiores economias industriais do planeta e, contraditoriamente, é apontada como o lócus de uma das maiores concentrações de riqueza do mundo..

Nunca é demais citar o filósofo e frade dominicano italiano Giordano Bruno (1548 - 17 de fevereiro de 1600) que, diante do tribunal que julgava o teor de suas teses, afirmou que errara apenas, ao agir ingenuamente, pedindo aos detentores do poder que o reformasse. Deixando, portanto, implícito, que poder não se pede, se conquista com consciência, organização e ação política.

Por fim, a proposição do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES de colher assinaturas para elaborar um Projeto de Lei de Iniciativa Popular objetivando a criação de um Programa Nacional de Economia Solidária aponta para uma prática necessária à expansão do movimento, qual seja: o comprometimento do poder público, através da implementação de políticas públicas de economia solidária para o fortalecimento da Economia para a Vida, injetando recursos na afirmação das atividades econômicas que priorizam o bem viver dos cidadãos e cidadãs, contrapondo-se a excludente política neoliberal que apenas prioriza a geração do lucro e ampliação da acumulação do capital, até porque, parafraseando Cristo, “Não é possível servir a Deus e ao capital”. (Mt 6, 24)...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

COMPRA A CRÉDITO: DO SONHO AO PESADELO

Em um passado não muito distante, comprar a crédito não era tarefa fácil. Isto porque diante da perspectiva de inadimplência, o comércio exigia, com muita freqüência, além de inúmeros documentos, a presença de um avalista. E convenhamos, era quase sempre, constrangedor, solicitar, ou ser solicitado, assumir tal compromisso, diante das conseqüências possíveis. Por outro lado, ter acesso a um cartão de crédito ou cheque especial, pressupunha uma série de condições, a começar pela magnitude do rendimento comprovado, o que restringia a oferta de crédito para poucos.

Na atualidade, constata-se uma situação inversa. Bancos, financeiras e outras instituições creditícias, conhecedoras da quase inexistente educação financeira da população, descobriram as vantagens da oferta de crédito fácil e farto, disponibilizado, sem avalista e, muitas vezes, até mesmo sem a solicitação do potencial cliente, o qual é convidado, ou induzido, a contrair e utilizar recursos de terceiros como se seu fosse, incorrendo em um erro que costuma ser fatal para as finanças pessoais.

Para evitar incorrer em uma situação de descontrole orçamentário, torna-se conveniente ter acesso a alguma literatura, onde são apresentados e discutidos conceitos básicos de educação financeira, assim como também definir as estratégias e instrumentos relacionados às suas ações, enquanto consumidores.

Algumas recomendações para não se tornar presa fácil das armadilhas financeiras relacionadas ao crédito:

1- Não confunda crédito com dinheiro próprio. Portanto, use-o com parcimônia, e apenas em casos de extrema necessidade;

2- Organize-se. Não esqueça as datas de vencimento de suas contas, pois, neste caso, você estará tendo despesas adicionais (juros e multas) por simples falta de planejamento;

3- Cartão de crédito - Não esqueça que sua taxa de juros é a maior do mercado financeiro nacional;

4- Cartão de crédito - Todo cuidado é pouco com as “facilidades” que o banco oferece para você pagar a dívida. Fuja do pagamento mínimo;

5- Não gaste mais do que você ganha. Seja uma pessoa superavitária;

6- Se nenhum crédito limita suas decisões, crédito fácil demais atrapalha. Via de regra, induz a um endividamento excessivo;

7- Não esqueça de conferir seu extrato bancário. Não é incomum o banco “errar” e fazer cobranças indevidas;

8- Mesmo quem tem renda elevada pode vivenciar situações desagradáveis se esquecer que tem uma restrição orçamentária, qual seja, não se deve gastar mais do que recebe.

Isso posto, é bom não esquecer que embora o cartão de crédito não seja dinheiro, exerce sua função e, o que é mais importante, é pago com dinheiro.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

EDUCAÇÃO FINANCEIRA EM PERGUNTAS E RESPOSTAS

O propósito desta coluna é apresentar semanalmente um artigo de Educação Financeira, discutindo conceitos relacionados às finanças pessoais, proporcionando, ao longo do tempo, uma base teórica que torne o cidadão mais capacitado para administrar seu orçamento familiar.

TEMA 1: CRÉDITO CONSOLIDADO

É fornecido por empresas financeiras para as pessoas que se encontram em elevado grau de endividamento.

O que é, como funciona e quais as vantagens e desvantagens de seu uso?

O que é crédito consolidado?

R-É a reunião de diversas dívidas em uma só. Isso feito transformará de imediato, uma situação de vários credores em um único, assim como também a centralização de todas as datas de pagamento em uma só. Em resumo, ao fazer um crédito consolidado, o devedor estará contraindo uma grande dívida para quitar diversas dívidas menores.

Como a principal causa geradora de um crédito consolidado é possibilitar ao devedor sair de um contexto de elevado comprometimento mensal de seus rendimentos, o novo débito contraído terá, necessariamente, um prazo mais longo de quitação, o que significará uma diminuição do valor a ser pago mensalmente.

Importa salientar que a taxa de juros tem um comportamento diretamente proporcional ao prazo de pagamento, qual seja, a um prazo maior, corresponderá uma maior taxa de juros, o que, consequentemente, implicará em um maior volume da dívida contraída.

Quais as vantagens de um crédito consolidado?

R.a) Reduz substancialmente o número de credores;

b) Diminui o comprometimento do rendimento mensal, com menores prestações;

c) Centraliza a data de pagamento, possibilitando um gerenciamento mais eficaz da dívida.

Quais as desvantagens de um crédito consolidado?

R.a) Aumenta o volume total da dívida em conseqüência de uma maior taxa de juros;

b) Como o elevado grau de endividamento de parcela significativa da população decorre, quase sempre, da inexistência de uma educação financeira, o alívio inicial provocado pela dilatação do prazo de pagamento, sem os esclarecimentos devidos sobre a origem do descontrole orçamentário, poderá induzir a novos endividamentos. Isso posto, as saídas de uma situação de caos nas finanças pessoais e familiares tornar-se-ão cada vez mais difíceis, criando uma avalanche de descontrole de resultados catastróficos para as famílias, enriquecendo, contudo, os financistas usurários.

c) Por fim, talvez a mais perversa das conseqüências da adoção de um crédito consolidado, dar-se-á a partir da exigência da garantia solicitada pelos credores.

Neste caso, como contrapartida do crédito, utiliza-se um bem imobiliário (terreno, casa ou apartamento) como hipoteca. Na hipótese, infelizmente não muito remota de inadimplência, ocorrerá à cessão de um patrimônio, via de regra, conseguido a duras penas, ao longo da vida.

Concluindo tais considerações acerca do crédito consolidado, torna-se oportuno alertar inicialmente para a necessidade de compatibilizar os volumes de ganhos e gastos, evitando-se a necessidade de endividamento.

Na hipótese da necessidade real de endividamento, sugere-se evitar ultrapassar o grau de endividamento recomendável - cerca de 30% do salário líquido com dívidas - (prestações fixas).

Finalmente, só na hipótese de um efetivo descontrole das finanças pessoais, aí sim, o crédito consolidado deve ser sugerido como alternativa, aliado, contudo, as outras medidas saneadoras das finanças pessoais. Nunca sozinho.

sábado, 2 de janeiro de 2010

ARROGÂNCIA NA BAND

O âncora do Jornal da Band, Boris Kasoy, demonstrou toda sua arrogância, diga-se de passagem, que é uma conduta típica dos imbecis, ao fazer um comentário desairoso sobre uma matéria levada ao ar no jornal televisivo, por ele mesmo apresentado, no dia primeiro de janeiro próximo passado.

A matéria era uma mensagem de dois varredores de rua, desejando aos brasileiros um Feliz Ano Novo. Pensando que os microfones estivessem desligados, comentou: “Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”.

Como o áudio estava sendo transmitido, o vídeo caiu na internet, sendo imediatamente repudiado pelos internautas.

Diante do fato, o jornalista afirmou que errou e que iria se retratar com o público.

E daí, fica só nisso? É simples assim? Então ele usa a televisão, com condições de chegar a todos os lares do país, achincalha toda uma categoria profissional que, diga-se de passagem, é tão respeitável quanto a de jornalista, destilando todo o fel de seu preconceito venenoso e diz apenas desculpe?

É importante não esquecer que a televisão não determina, mas tem um grande poder de influência nas condutas pessoais. Portanto, quem garante que amanhã, outras pessoas não acharão também normal destratar alguns ofícios manuais, por exemplo, e depois pedirem desculpas? Afinal não é com tais comentários que se constrói uma sociedade justa, equânime e solidária.

Isso posto, estou aqui propondo e iniciando uma campanha de oposição ao Jornal da Band, com o boicote dos habituais telespectadores desse programa, desligando ou trocando de canal seus televisores pelo período de um mês. Como os programas existem em função da audiência, que por sua vez representa lucro (e esta linguagem eles entendem), espera-se, em nome do interesse pecuniário, ou da ética profissional que, a partir desse fato, haja uma maior preocupação por parte da produção dos programas televisivos em respeitar a pessoa humana, seja ela médico, professor ou varredor de rua.

Quem concorda, manifeste-se.