quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Digital de Deus




Com o intuito de fazer uma faxina em meu computador, resolvi abrir algumas pastas e reler alguns artigos escritos em tempos idos. Reli textos onde discutia questões como precarização do trabalho, desemprego, concentração de renda, inflação, dívida externa, economia solidária, economia da dádiva, entre outros tantos assuntos. Dentre os artigos “revisitados”, um, particularmente – A Digital de Deus -, escrito na primavera de 2005, na Ilha de Fernando de Noronha, proporcionou-me um gostoso sentimento de reencontro com histórias, lembranças e pessoas queridas.

Considerando que este texto foi apenas apresentado em sessão do Instituto Histórico de Olinda-Pernambuco, escrito para materializar um sentimento de gratidão meu para com a Ilha, pela oportunidade de poder usufruir de tão exuberante expressão de beleza natural, além da necessária tranqüilidade para dar os últimos retoques a uma obra de introdução à economia – “Para Aprender Economia”-, e, como dito, apenas apresentado em sessão do Instituto Histórico de Olinda-Pernambuco, resolvi publicá-lo neste blog, para compartilhá-lo com meus leitores.

Vamos, portanto, ao artigo.

No final do século XV, mais precisamente em 21 de abril de 1500, os portugueses, movidos pelo desejo de alcançar as Índias, acabaram chegando ao Brasil.

Em 1503, o navegante português Américo Vespúcio, em expedição com objetivo de reafirmar a posse e denominar topônimos, teria sido o primeiro português a pisar em Fernando de Noronha.

Em 1504, Fernão (Fernan) de Loronha, fidalgo português que financiara a expedição ocorrida no ano anterior, recebeu do rei de Portugal, Dom Manuel, a primeira capitania hereditária criada no Brasil, situada em Fernando de Noronha.

Em 1629, com a vinda dos holandeses para o Brasil, mais especificamente para o nordeste brasileiro, foram, os batavos, responsáveis pela expansão e conseqüente desenvolvimento da economia canavieira, tendo ainda, marcante presença no Arquipélago de Fernando de Noronha.

No intervalo de 1629 a 1654, período da permanência dos holandeses no nordeste brasileiro, foram inúmeros os avanços implementados na Ilha. Dentre estes, podem-se destacar as construções de um conjunto de dez fortes, com o propósito de defender a posse diante das ações de possíveis invasores[1], de um conjunto de casas que deu origem a Vila dos Remédios, atual sede da Ilha, além de uma colônia correcional.

Em virtude da distância que separa a Ilha do Continente, este paraíso foi utilizado repetidas vezes como local de reclusão de presos. Assim, em 1739, para lá foram transferidos inúmeros ciganos, tidos, pelas autoridades, como vadios.

Já em 1844, os revolucionários aprisionados da Guerra dos Farrapos, tiveram a Ilha, como local de degredo.

No ano de 1890, os negros praticantes da capoeira, foram lá aprisionados, visto que as autoridades concluíram que a prática da capoeira era motivo de desordem. Posteriormente, em 1938, já em plena ditadura Vargas, a Ilha, que até então era administrada pelo Estado de Pernambuco, passou a ser subordinada à União, sendo seu presídio ampliado para funcionar como local de reclusão para presos políticos. Com este mesmo fim, a Ilha de Fernando de Noronha, foi utilizada pelos militares golpistas que tomaram o poder político, pela força das armas, no longo período de 1964 a 1985.

Após muitos anos, infelizmente, não há resquícios visíveis de traços culturais transmitidos às gerações posteriores pelos negros capoeiras, pelos revolucionários gaúchos nem pelos povos ciganos.

Mas, como não apenas os segregados foram trazidos à Ilha, viajantes e velejadores de inúmeras nações procuraram Fernando de Noronha como um porto seguro e aprazível para o desfrute das belezas lá existentes. Assim foi que, em 1816, o célebre pintor francês Debret, que lá esteve como membro de uma comitiva francesa, teve oportunidade de se inspirar no Morro do Pico, o ponto mais alto da geografia local, para produzir uma de suas mais belas telas.

O naturalista Charles Darwin, atraído pela exuberância das espécies animais existentes na Ilha, teve oportunidade de em 1832, fazer um relato rico e minucioso da fauna aquática e terrestre do local.

Como mecanismo de preservação das espécies existentes na Ilha, o Governo do Estado de Pernambuco, em parceria com o Ibama, criou, em 1988, o Parque Nacional Marinho.

Por fim, em reconhecimento à importância da preservação das inúmeras formas de vida existentes no Arquipélago de Fernando de Noronha para o planeta, a Unesco, em 2001, reconheceu o mesmo como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.

Fica, portanto, para os inúmeros visitantes que têm a oportunidade de se extasiarem com tamanha manifestação de beleza natural, a certeza de que a criação dos incontáveis peixes multicores, corais de variadas formas e tonalidades, pedras e seixos que são resquícios de erupções vulcânicas de eras remotas, tudo isso, pressupõe a existência de um Criador ímpar. Não é necessária muita busca para nos assegurarmos de que lá existem as marcas digitais de Deus, o Grande Arquiteto do Universo.




[1] Ainda hoje e possível encontrar inúmeros canhões trazidos na época, os quais estão distribuídos nos resquícios dos fortes que permanecem incólumes à passagem dos tempos.

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