sexta-feira, 2 de abril de 2010

SAPO SEM INICIATIVA MORRE COZIDO

Algum ou alguma de vocês já tentou cozinhar um sapo numa panela? Não? Pois é, eu particularmente não aconselho a ninguém, principalmente, se tiver uma panela com água em ebulição, fervendo a cem graus Celsius e tentar colocá-lo dentro dessa panela. Nesse caso, o resultado é esperado: o batráquio sofrerá um choque térmico tão forte que, imediatamente, dará um pulo colossal e você nunca mais o verá.

Contudo, esse mesmo sapo terá um comportamento distinto, se for colocado em uma vasilha com água fria. Ele irá adorar. Ficará feliz da vida. Você até poderá acender um fogo brando, que o bichinho continuará quieto. Com o tempo, a água poderá até continuar esquentando e ficar morna, mas o sapo, bem, vocês verão: continuará quietinho, acomodado. Mesmo que sinta algum desconforto, algum calor, mas, por comodismo, continuará quietinho.

Que sapo gosta de água, todo mundo sabe disso. Isso explica porque sapo adora uma lagoa. Não apenas lagoa, brejo também. Beira de rio, então, nem se fala. Na verdade, o sapo que eu estou me referindo, se acomoda às mudanças quando elas acontecem lenta e gradualmente. Em parte porque não as percebe. Na maioria das vezes, contudo, por puro comodismo.

Bem, passado mais algum tempo, a água estará quente e, como o sapo não reagiu, não se rebelou, irá perdendo suas forças até vir a falecer. Cozido, é claro.

Nós, à semelhança dos sapos, vemos surgir em nosso dia a dia, fatos e ações que nos incomodam, tais como crescimento do desemprego estrutural, com consequente precarização do trabalho, deterioração nas condições de moradia, principalmente nas periferias das grandes cidades, reflexo de uma conjuntura de elevada especulação imobiliária urbana, esgotamento da capacidade dos aterros sanitários, causado pelo aumento exponencial na geração de lixo, consequente do consumismo exacerbado, típico das sociedades de consumo de massa, piora crescente nos serviços públicos de saúde que, aliada ao encarecimento dos serviços privados de saúde, exclui parcelas significativas da população a um atendimento eficaz, "amornando" e aumentando a “temperatura social”, principalmente, para segmentos menos afortunados.

Diante desse cenário exposto, fica a convicção de que, por desarticulação e falta de senso crítico, além de uma boa dose de comodismo, demonstramos nossa incapacidade de indignação diante dos apartheides e guetos que caracterizam esse bipolarismo típico entre ricos e pobres do capitalismo selvagem globalizado.É chegada a hora, portanto, de atentarmos para o fato de que, se o surgimento do capitalismo representou inovações e avanços, comparativamente ao feudalismo que lhe antecedera, por outro lado, esse modelo, no que diz respeito a geração de emprego e renda para a maioria da população, há muito já deu mostras cabais de que a economia de mercado deixou de ser solução para constituir-se em problema.

Nesse caso, urge não acomodarmos diante de tais mudanças, exercendo nosso papel na construção de uma sociedade que prima pela preservação da vida em detrimento do crescimento do capital.

Isso posto, uma nova economia, pautada não mais na concentração do lucro e do capital, na concorrência, no individualismo e na exploração da força de trabalho, surge, dando mostras de que uma outra economia é possível.

Nesse paradigma que surge de forma consistente e coerente, o trabalho se sobrepõe ao capital, a partilha da riqueza gerada se contrapõe à concentração do capital e a democracia participativa contrapõe-se à democracia representativa, ressaltando a necessidade do fortalecimento da autonomia através da autogestão.

Nesse caso, estamos falando da Economia Popular Solidária, que está sendo construída por todos e todas que acreditam que o crescimento econômico apenas terá sentido se vier acompanhado pelo bem viver de parcelas significativas da população, empoderando pessoas e coletivos.

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